Diante da morte de milhões de suínos na China, o resto do mundo começa a se conscientizar sobre o problema. A população de porcos do país, a maior do mundo, deverá diminuir mais de 30%, com a perda de cerca de 130 milhões de animais, diante do surto de peste suína africana (PSA) que devasta as granjas chinesas.
A crise reformulará os mercados globais de proteínas, puxando para cima os preços, ao mesmo tempo em que a China, principal país produtor e consumidor mundial de carne suína, se prepara para anos de escassez e desabastecimento em seu mercado. “Esse foi um poderoso agente de mudança”, diz Jais Valeur, CEO da Danish Crown, maior processadora europeia de carne suína. “Estamos apenas começando a ver o verdadeiro impacto da peste suína africana.”
O vírus da PSA é fatal para os suínos e não tem cura. A atual onda de focos começou na Geórgia em 2007 e se alastrou para partes da Europa Oriental e da Rússia antes de chegar à China, em agosto do ano passado. Após Pequim sustentar por oito meses que a situação estava sob controle, a crise se tornou inegável. O Ministério da Agricultura chinês informou na semana passada que uma estimativa preliminar sugere que os preços da carne suína subirão mais de 70% no segundo semestre.
A queda acentuada da população de porcos da China abalou todo o setor de alimentos mundial. Os contratos futuros de suínos em pé dispararam em Chicago. As ações de frigoríficos dispararam em São Paulo e em Nova York. As vendas de carne suína dos EUA para a China bateram recorde, apesar da tarifa de 62% imposta por Pequim sobre o produto americano em meio às disputas comerciais entre os dois países.
A população chinesa, de 1,4 bilhão de habitantes, consome 55 milhões de toneladas de produtos à base de carne suína por ano, de longe o maior volume dentre todos os países do planeta. O consumo de carne das famílias cresceu persistentemente com a alta da renda, e o grosso dessa demanda era atendido por uma população doméstica de mais de 430 milhões de suínos antes do surto.
Mas as mortes causadas pela doença e pelo sacrifício de animais deverão resultar numa redução de 130 milhões de porcos na China até o fim deste ano, segundo estimativas da analista Christine McCracken, do Rabobank. “Não é pouca coisa. Eles têm 50% dos suínos do mundo e perderam 30% dessa produção”, disse.
O impacto do problema será duradouro. Ernan Cui, analista de consumo para a China da Gavekal Dragonomics, afirmou que, embora a erradicação da PSA tenha levado pelo menos cinco anos em outros países, o tamanho do mercado chinês, sua estrutura reguladora e seus baixos parâmetros sanitários deverão prolongar a crise.
“Para o país como um todo, pode ser um processo muito prolongado. É provável que dure mais que uma década”, disse ela. Cui acrescentou que a doença deverá acelerar a concentração de capital no segmento, na medida em que as pequenas fazendas de criação, responsáveis por cerca de 66% da oferta, enfrentam dificuldades para arcar com os custos necessários para deter a doença.
O Rabobank prevê escassez em outros países da Ásia e da América Latina dependentes de importações, numa “mudança sem precedentes do comércio” em vista do redirecionamento da oferta de carne suína para o mercado chinês.
Os efeitos dessa guinada deverão se propagar para todos os lugares e proteínas animais. A Europa já é a maior parceira comercial da China em carne suína. Valeur, da Danish Crown, disse que os embarques de carne suína congelada para a China dobraram desde fevereiro, quando comemorações marcaram, ironicamente, o início do Ano do Porco.
Normalmente, a maior parte das importações é limitada a itens como pés, orelhas e vísceras. Mas, “nos últimos dois meses, quase tudo está sendo encomendado pela China”, afirmou o executivo.
“O Brasil é um país que está bem posicionado para um crescimento acelerado” das exportações de carne suína para a China, ao mesmo tempo em que seus embarques de carne bovina e de frango também poderão aumentar, avaliou o Morgan Stanley.
“É notório que a China passará a importar mais, e que essa nova demanda abrange todos os tipos de proteína, e não apenas suínos”, informou a brasileira JBS, maior empresa de carnes do mundo, com operações em diversos países (ver matéria acima).
A expectativa de aumento das compras chinesas também alimentou uma alta expressiva dos contratos futuros de animais de criação em Chicago. Os papéis do suíno em pé para entrega em junho estavam em US$ 0,96 por libra-peso (453,59 gramas) na bolsa na semana passada, em alta de 25% em relação ao início de março, quando a China começou a aumentar as aquisições de carne de porco americana, que hoje totalizam mais de 127 mil toneladas.
Mas, devido às tensões comerciais entre Washington e Pequim, os produtores americanos de carne suína estão contendo o entusiasmo. A Tyson Foods, maior processadora americana de carnes, disse estar “acompanhando de perto” a PSA e “avaliando o impacto potencial da crise sobre as condições do mercado”.
Pequim elevou suas tarifas sobre a carne suína como reação às taxas impostas pelo governo Trump a produtos chineses no ano passado. A China, além disso, proíbe o consumo de carne de porcos alimentados com ractopamina, complemento de crescimento usado em pelo menos metade da suinocultura americana, disse Dermot Hayaes, professor da Universidade Estadual de Iowa.
Enquanto isso, EUA, Canadá e México estão se mobilizando para manter a doença fora da América do Norte. O governo americano está instruindo os criadores sobre protocolos de biossegurança e usando cães Beagles em portos marítimos e aeroportos para farejar produtos contrabandeados. O Conselho Nacional de Produtores de Carne de Porco cancelou sua World Pork Expo, marcada para este mês no Estado de Iowa, para garantir que nenhum de seus 20 mil visitantes traga o vírus do exterior.
“Nossos membros estão com muito, mas muito medo nas áreas rurais”, disse David Herring, presidente do conselho dos produtores. “Eles entendem como é potencialmente gratificante não ter a peste suína africana, e essa é uma questão muito premente”. (Tradução de Rachel Warszawski)
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