Greening, a doença que afeta pomares de citros (laranja, limão e mexerica) no mundo inteiro é causada pelas bactérias Candidatus Liberibacter spp, Candidatus Liberibacter africanus, Candidatus Liberibacter asiaticus e Candidatus Liberibacter americanus, responsáveis por deixar as folhas amareladas e mosqueadas.

Devido o seu grande poder destrutivo e alta capacidade de contágio, o greening é considerado uma grande ameaça à citricultura em escala mundial. Além disso, o inseto (transmissor da doença) é comumente encontrado na planta ornamental Murraya spp, popularmente conhecida como dama-da-noite.

A árvore de origem asiática, conhecida pelo perfume adocicado que exala à noite, está no foco de pesquisadores brasileiros que pretendem torná-la letal para o inseto transmissor da doença, que é atraído pelo aroma da flor. E isso da forma mais contemporânea possível: transformando a dama-da-noite numa planta transgênica.

Vinculados ao laboratório de biotecnologia da Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), os pesquisadores estão em fase de validação final da estratégia de usar a planta como armadilha ao inseto. Há cinco anos eles aplicam doses regulares de inseticida sobre grupos dessas árvores em Araraquara, polo de produção de laranja no estado de São Paulo e sede da Fundecitrus.

A intenção era correlacionar pulverização e queda populacional do inseto. À medida que a pesquisa ocorria, os cientistas iniciaram os trabalhos em laboratório, na tentativa de criar uma variedade de dama-da-noite que já tenha o inseticida em seu código genético. “Tudo indica que a estratégia é viável”, afirmou Marcelo Miranda, cientista do Fundecritrus.

A ideia de usar a planta hospedeira transgênica como uma armadilha veio em meio aos temores de citricultores e da indústria de suco da reação pública a uma possível aprovação de laranjas transgênicas no mercado. Diferentemente de outras commodities agrícolas geneticamente modificadas, a laranja é destinada exclusivamente ao consumidor final, seja in natura ou processada.

Pesquisadores do Instituto Agronômico de São Paulo (IAC), vinculado ao governo estadual, já mantêm em estufas duas variedades de laranjas mais resistentes a outras doenças – o amarelinho e o cancro cítrico. Em estágio preliminar (laboratorial) também estudam a resistência ao greening.

Além de evitar o desgaste público, a pesquisa com a dama-da-noite está alinhada com a estratégia de atuar mais fortemente sobre a prevenção do greening, e não só no seu combate no pomar. “Uma vez que o inseto chega, acabou. A orientação é arrancar o pé de laranja”, afirma Juliano Ayres, gerente-geral do Fundecitrus.

Segundo ele, o erro dos EUA foi em centrar esforços na cura da planta – com nutrição intensificada, uso de antibióticos, termoterapia e o desenvolvimento de plantas resistentes à doença. Não deu certo. Apesar dos investimentos de quase US$ 40 milhões ao ano em pesquisa, diz Ayres, o parque citrícola americano definhou e quase 90% dos pomares estão contaminados. Das 240 milhões de caixas com 40,8 quilos de laranja produzidas no passado recente, o país produz só 45 milhões de caixas, a menor marca para o país em 60 anos.

“Hoje, 25% dos pomares na Flórida estão abandonados, viraram criadouros do inseto”, afirma Ayres, comparando com o abandono de 0,5% de pomares no Brasil.

Diferentemente da estratégia americana, o Fundecitrus, financiado pela indústria da laranja e citricultores, aposta em várias linhas de pesquisas de prevenção.

Do ponto de vista científico, a dama-da-noite transgênica é promissora, mas ainda é só uma promessa. Os muitos testes, validações e aprovações de autoridades governamentais não a tornarão uma realidade em menos de dez anos.

Mais adiantado está à liberação de vespas nos laranjais. O controle biológico já é uma prática difundida na cultura da cana-de-açúcar e, há três anos, a entidade inaugurou sua primeira fábrica de produção da Tamarixia radiata, que atua sobre os insetos. Já foram produzidos 2,5 milhões dessas vespas, tendo 80% sido soltas nos pomares.

Paralelamente, o primeiro bioinseticida para a doença (e que não afeta vespas e outros insetos) será comercializado em breve no país.

O primeiro caso de greening detectado no Brasil foi em 2004, na região de Araraquara. A boa notícia, diz Ayres, é que a taxa de plantas contaminadas está estagnada há três anos em 17%. “Mas é uma doença tão séria que não dá para olhar só para o seu terreno. É como a dengue, tem que olhar além”.