Apesar do crescimento econômico mais lento, a China deverá ter uma demanda adicional de cerca de 35 milhões de toneladas de soja em dez anos, segundo o banco holandês Rabobank. De acordo com estudo, o Brasil poderá absorver 80% dessa demanda adicional. Se a previsão se confirmar, serão 28 milhões de toneladas a mais partindo dos portos brasileiros para o mercado chinês – o que, considerando o preço médio para o grão exportado em agosto, representa US$ 10,52 bilhões.
O estudo, assinado por Lief Chiang e Victor Ikeda, indica que a demanda chinesa crescerá ancorada na urbanização e consolidação da pecuária, especialmente do segmento de produção de suínos. A população urbana chinesa deverá sair de 56% para 65% do total do país em 2020, o que significa 150 milhões de pessoas a mais nas cidades. cenário, a importação de soja do país asiático deve sair de 91 milhões de toneladas no ciclo 2016/17 para 125 milhões de toneladas em 10 anos.
Na comparação com os Estados Unidos e Argentina, o Brasil – que já envia 80% da soja que exporta ao mercado chinês – é o país em melhores condições para atender a demanda da China.
Para o Rabobank, em 10 anos, as exportações dos EUA crescerão apenas 5 milhões de toneladas, uma vez que não há muito espaço para aumento de produção. E, na Argentina, as exportações deverão crescer apenas 4 milhões de toneladas.
Para atender a demanda crescente chinesa e também doméstica – considerando um aumento da demanda por biodiesel e da produção de aves e suínos -, o Brasil terá de ampliar a área com soja em 12 milhões de hectares em 10 anos, estima o Rabobank. Essa área adicional viria de pastagens, segundo o estudo. Para a instituição, uma redução de 0,1 animal por hectare já liberaria 14 milhões de hectares para lavouras. Na safra 2016/17, a área plantada com soja no Brasil foi de 33,9 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Pelas estimativas do Rabobank, a produção brasileira de soja na safra 2026/27 deve atingir 154 milhões de toneladas, um aumento de 35% ante a produção recorde de 114 milhões de toneladas do ciclo 2016/17. Do total, cerca de 90 milhões de toneladas seriam destinadas à exportação. De acordo com estudo, a produtividade se manteria na faixa vista no ciclo passado, de 3,4 toneladas por hectare.
Ainda que haja condições para elevar a produção, o maior desafio para o Brasil continuará sendo melhorar a cadeia de logística, afirmou Victor Ikeda ao Valor. A ineficiência logística é o principal gargalo para a competitividade da agricultura brasileira. Mesmo assim, avalia o banco, os custos de produção, especialmente levando-se em conta o custo da terra, têm propiciado boas margens para os produtores nos últimos anos.
De acordo com o estudo do Rabobank, o custo médio da terra em Mato Grosso – principal Estado produtor no país – é de cerca de US$ 7 mil por hectare, enquanto em Iowa (EUA), gira em torno de US$ 18 mil por hectare, e, na Zona Núcleo, na Argentina, ao redor de US$ 16 mil por hectare.
No estudo, o Rabobank observa, ainda, que há várias oportunidades para as empresas chinesas ampliarem as compras de soja no Brasil. Isso pode ocorrer por meio do financiamento da produção de soja até pelos investimentos nas instalações portuárias. Contudo, empresas que queiram entrar no setor de originação de grãos brasileiro precisam ter um bom entendimento da cadeia no país. A aquisição de companhias do setor de grãos no Brasil, como já vem ocorrendo, pode ser uma forma de conhecer melhor o setor.
O estudo também afirma que as especificidades do mercado de crédito para a produção brasileira, como as operações de barter (troca de insumo por grão), podem ser um desafio para empresas chinesas que tenham a intenção de investir na originação de soja no Brasil.
Mesmo com todas as peculiaridades do mercado brasileiro, Ikeda destaca que uma das conclusões do estudo é de que, na próxima década, “é esperada que a ligação entre o Brasil e a China se fortaleça ainda mais. Não só na forma de comércio, mas também na forma de oportunidades de investimento ao longo da cadeia de valor da soja”.
Fonte: www.valor.com.br
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